segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Comentários do aluno Marcos Castilhos

Violência mancha o futebol brasileiro

Campeão da Copa das Confederações, pentacampeão mundial de futebol e atual líder do Ranking da FIFA, o Brasil também lidera o ranking da violência relacionada ao esporte. Estudo recente elaborado pelo sociólogo Maurício Murad aponta que 42 pessoas foram mortas em confrontos envolvendo torcidas - dentro e nas imediações dos estádios, entre 1999 e 2008. Os dados são confiáveis, pois foram todos checados e conferidos pelos Institutos Médicos Legais (IMLs) e delegacias de polícia das cidades onde foram registradas as ocorrências. Assim, o Brasil ultrapassa Itália e Argentina e assume a liderança mundial da violência no futebol. "Uma conquista trágica e perversa", nas palavras do pesquisador.
Tristes episódios, como o de um torcedor corintiano espancado até a morte antes do duelo entre Corinthians e Vasco, na noite do último dia 3 de junho, mostram que não apenas de glórias vive o "País do Futebol". A violência que mancha nosso futebol é reflexo das mazelas sociais que campeiam pelo Brasil, violência esta que aumenta à medida que crescem a impunidade e a malversação dos recursos públicos. Essa combinação de fatores põe em cheque a capacidade de o Brasil sediar a Copa do Mundo em 2014, onde a segurança pública é um dos itens principais do catálogo de exigências da FIFA. Triste contradição!
A origem da guerra entre torcidas uniformizadas é a rivalidade insana do futebol. Não apenas no Brasil, mas também em países europeus e de outros continentes, o "povão" se envolve mais com futebol que com questões ligadas à religião ou à família, por exemplo. O que fazer para estancar essa violência irracional? Afinal, uma partida de futebol é tão somente uma partida de futebol. Deveria ser, mas infelizmente a "paixão" pelo esporte acaba acobertando verdadeiras escolas do crime.
O tema é momentoso e revela uma profunda crise de valores por que passa a sociedade contemporânea. A violência vai, paulatinamente, consolidando-se como uma linguagem universal entre os jovens. A internet serve de instrumento para a articulação de encontros entre "gangues" de torcidas, que usam o futebol para canalizar suas energias, deflagrando cenas de revolta e brutalidade.
O vazio cultural também encontra ressonância nos jogadores profissionais de todo planeta, cujos hábitos e valores já não servem de exemplo como outrora. Ao valorizar a posse de bens materiais, a sociedade de consumo ajuda a pintar um quadro, no qual futebol, comércio e violência formam cada vez mais, partes de um todo de difícil separação.
O problema deve ser enfrentado com pragmatismo, requerendo a intervenção direta do Estado e a mobilização da sociedade civil. Todos, a começar pelos dirigentes dos clubes profissionais e das federações de futebol, devem se envolver e articular acordos para coibir a violência crescente. É preciso aplicar medidas políticas, jurídicas e administrativas que sejam viáveis para transpor essa triste página do desporto nacional.
O Estatuto de Defesa do Torcedor (em vigência desde 2003) necessita ser mais amplamente divulgado, a fim de que os torcedores/consumidores estejam bem informados acerca de seus direitos e deveres para cobrar providências por parte dos clubes e do poder público. Igualmente salutar é a reforma do documento legal, no sentido de criminalizar ações de vandalismo praticadas por falsos torcedores. Há torcidas organizadas funcionando como verdadeiras associações, com sede própria, estatuto, CNPJ e corpo diretivo. À primeira vista, nada de errado, pois são grupos legítimos com os quais o Estado deve dialogar. Entretanto, há casos em que dirigentes de times criam laços promíscuos, por meio da manipulação de integrantes, chegando ao absurdo de permitir a isenção da compra do ingresso por facções das organizadas, estabelecendo-se uma relação tipicamente comensal.
A menos de cinco anos de sediar a Copa do Mundo, o Brasil precisa agir rápido. Um aspecto crucial é promover a especialização de efetivos da polícia para atuar diretamente em ocorrências relacionadas a eventos esportivos. As autoridades públicas devem investir em recursos humanos e tecnológicos, como a implantação de um banco de dados informatizado, que reúna elementos úteis para uma ação de inteligência integrada por parte da polícia, Ministério Público e Poder Judiciário. Um primeiro passo para combater a impunidade no futebol seria a identificação dos líderes que conflagram a violência. Os jogos aglomeram multidões e na hora da confusão há sempre o insuflador, a quem os demais seguem. Câmeras potentes, de alta definição possibilitam a visualização real do tumulto, facilitando a prisão dos culpados e a conseqüente obtenção de provas que forneçam subsídios à ação estatal.
O combate à violência no futebol brasileiro só será eficaz quando o tema for inserido, de fato, no contexto macro da realidade nacional. Não adianta partir para a radicalização, pedindo a eliminação das torcidas organizadas. Isto atenta contra a democracia, já que representaria o fechamento de um espaço de convivência plural, que agrega cidadãos de diversas classes sociais.
Medidas enérgicas fazem-se prementes para frear o quadro tirânico e opressor reinante em nosso futebol. Ao mesmo tempo é necessário que o Estado esteja presente nas periferias, com campanhas sócio-educativas de inclusão social através do esporte, em parceria contínua com as comunidades e organizações da sociedade civil.

Um comentário:

  1. As violências no contexto esportivo se apresentam hoje, como um grave problema social. Enfocamos a violência como algo que não faz parte da natureza humana do ser humano, e sim ela é produzida e reproduzida através das ações de homens e mulheres, portanto um fenômeno gerado nos processos sociais, históricos e culturais. Muitos são os episódios de violência física que mancham os esportes, em especial no futebol, agressões entre os jogadores, a violência nas torcidas organizadas, o fanatismo esportivo, entre outros. Sendo assim essa violência compromete o desenvolvimento saudável da sociedade como um todo e se transforma em um problema também de saúde pública.
    Acho que a falta de punição é a principal causa do aumento da violência, pois é a certeza da impunidade que motiva o homem a cometer determinado crime.

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